BEKA, A JOVEM GUERREIRA MUNDURUKU

Beka Saw Munduruku, 19 anos, é uma guerreira que defende a Floresta Amazônica. Ela pertence à etnia Munduruku, que significa formigas vermelhas. Foi assim que seu povo foi chamado por seus inimigos, uma referência ao ataque em massa dos guerreiros Munduruku aos territórios rivais.

Beka nos levou para conhecer a Amazônia onde ela e uma grande população de 28 milhões de brasileiros vivem. 

Cacalos Garrastazu/Eder Content | Meio de transporte comum nos rios amazônicos, a voadeira é uma embarcação com motor de popa

Para chegar à aldeia Sawré Muybu, onde Beka nasceu e cresceu, é preciso enfrentar a Rodovia Transamazônica sem asfalto e cheia de buracos por mais de duas horas.  Chegamos ao Porto de Buburé, onde é feito o transporte de pessoas e cargas por meio de “voadeiras” no rio Tapajós. Do porto até a aldeia Sawré Muybu, são 18 km pelo rio. 

Quer uma carona até lá?

Vem navegar de voadeira pelo rio Tapajós com a nossa equipe!

Sawré Muybu, a casa da Beka

O modo de vida dos povos indígenas costuma despertar curiosidade entre não indígenas. É comum pensarmos que as populações originárias do Brasil vivem como há mais de 500 anos, quando os portugueses desembarcaram por aqui. 

Mas é importante ter em mente que, hoje, a diferença está no fato de que eles habitam a floresta e vivem em meio à natureza. Como nós, não indígenas, eles vivem em casas de alvenaria, alimentam-se de frutas, vegetais, caça e pesca, têm sua própria língua, cultura, crenças e costumes. 

Para visitar uma aldeia indígena, é preciso ser convidado – como na casa de qualquer um de nós. A aldeia Sawré Muybu é a casa da Beka. Nossa equipe foi convidada por ela e pelo avô, o cacique Juarez Saw Munduruku, para ver de perto os desafios e ameaças ao modo de vida dos povos originários na Floresta Amazônica.

Cacalos Garrastazu/Eder Content | Aldeia Sawré Muybu, vista do alto. Localizada no Médio Tapajós, no Pará, é onde vivem cerca de 120 indígenas da etnia Munduruku

As Pinturas Corporais Indígenas

“[…] assim machos como fêmeas costumam tingir-se com o sumo de uma fruta que se chama jenipapo, que é verde quando se pisa e depois que se põe no corpo e se enxuga fica muito negro, e por muito que se lave não se tira senão aos nove dias: isto tudo fazem por galantaria.”

No Tratado da Terra do Brasil, tido como o primeiro livro de História do Brasil escrito por volta de 1570, o português Pero de Magalhães Gândavo já se referia às pinturas corporais dos indígenas brasileiros. Mas o que o português entendeu como uma forma de enfeitarem-se dos povos indígenas pode ter diferentes significados, de acordo com a etnia

Em geral, representam seres da natureza e os significados associados a eles, são diferentes para homens e mulheres e têm grafismos e nomes exclusivos para festas, rituais e guerras.  

 

Na tradição do povo Munduruku, as pinturas masculinas mais comuns representam a formiga e o jabuti e são usadas para atrair as forças da natureza e garantir boa caçada e pesca aos indígenas. Para guerra e confronto, os guerreiros Munduruku pintam o corpo todo de vermelho, cor usada apenas para situações extremas.

Beka conta que as pinturas corporais mais frequentes nas mulheres remetem às escamas de um peixe, numa referência direta à mitologia das mulheres Munduruku

“Essa pintura veio das mulheres de antigamente, que fizeram sua passagem para virar peixes. Quando teve uma desunião na aldeia, homem contra mulher, as mulheres caíram dentro d’água.”

 

Na mitologia Munduruku, esse episódio envolve um conflito entre um filho desertor do deus Karosakaybu que, após ser transformado em uma anta pelo pai, hipnotiza as mulheres da aldeia para molestá-las. Descoberta pelos maridos, a vingança resulta na morte da criatura. Enfeitiçadas, as mulheres foram ao local dos encontros com o animal e mergulharam no rio, transformando-se em peixes. Por isso, o principal grafismo das mulheres Munduruku representa o peixe jacundá (ou leléu).

Episódio em imagens

Cacalos Garrastazu

Território Ancestral, a música

A trilha sonora do áudio documentário Amazônia Invisível é uma composição da artista Kaê Guajajara, nascida no Maranhão e expulsa do seu território por invasões de madeireiros. 

Na letra da música, ela conta a própria história e a de muitos indígenas brasileiros de diversas etnias. Vem cantar junto com a @kaekaekae!

O NEGÓCIO POR TRÁS DA DEVASTAÇÃO

Há um negócio muito lucrativo por trás do desmatamento da Amazônia: a extração ilegal de madeiras nobres para exportação. Um negócio que cresceu num ritmo cada vez mais acelerado no Brasil ao longo da última década, e que levou o país a responder por mais da metade de toda a madeira bruta exportada pela América Latina. 

Desde o início do governo Bolsonaro, os números oficiais da Secretaria de Comércio Exterior revelam um aumento exponencial nas vendas de madeira bruta ao exterior. Somente em 2021, o Brasil exportou 2,6 milhões de toneladas de madeira bruta, um salto de 91% no volume exportado em comparação ao ano anterior. 

EXPORTAÇÕES DE MADEIRA BRUTA DO BRASIL CRESCERAM 6.356% NA ÚLTIMA DÉCADA

Mas como a madeira extraída ilegalmente da Amazônia chega ao mercado externo? O pesquisador Edson Vidal é especialista em manejo florestal e autor de um grande estudo sobre as formas utilizadas pelos madeireiros para “esquentar” a madeira e colocá-la no mercado de forma legal. Ouça como isso é feito:

Cacalos Garrastazu/Eder Content

AS MADEIRAS MAIS COBIÇADAS DA AMAZÔNIA

(valor do metro cúbico/US$)

IPÊ

244

Jatobá

109

Massaranduba

99

Muiracatiara

99

Angelim vermelho

96

Fonte: Tropical Timber Market Report (ITTO) – vol. 26 / Fev 2022

Episódio em imagens

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UMA FLORESTA EM CHAMAS

Quando os cientistas olham para os incêndios na Amazônia, eles veem muito mais do que nós, que não somos biólogos, geólogos e climatologistas que estudam a natureza e as mudanças climáticas. Para pesquisadores e especialistas, o aumento das queimadas significa maior emissão de gases de efeito estufa. As áreas queimadas significam que a floresta terá mais áreas degradadas. É uma linguagem científica que está presente nos alertas feitos pelos cientistas em entrevistas e documentos, mas que nem todos compreendem. 

Nós perguntamos à geóloga Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), como o fogo degrada a floresta e impacta as metas do Brasil de redução de emissão de gases de efeito estufa. 

Amazônia Invisível – O que as queimadas têm a ver com as emissões brasileiras de gases de efeito estufa?

Ane Alencar –  O fogo que entra na Floresta da Amazônia impacta a quantidade de carbono que tem nessa floresta. E quando ela é queimada gases do efeito estufa são liberados para a atmosfera.E isso gera mais emissões. O impacto do fogo nessas florestas que foram queimadas pelo menos uma vez na Amazônia representa uma redução de 20% a 25% nos estoques de carbono. 

Amazônia Invisível – Por que se diz que as queimadas aumentam a degradação da floresta?

Ane Alencar – Degradação significa uma mudança na estrutura dessa floresta. Então, se a floresta tem muitas árvores grandes, ela vai ter árvores menores porque as árvores grandes vão morrer pela queimada. Ou se essa floresta tem uma diversidade grande de espécies, essa diversidade vai ser reduzida porque só as espécies que toleram o fogo vão conseguir permanecer ali, dependendo da frequência. Então, basicamente, é uma mudança na estrutura, na riqueza, nas funções que essa floresta presta. Uma floresta com menos árvores vai, por exemplo, evaporar menos. Vai jogar menos água para a atmosfera, então vai ter um impacto no serviço ecossistêmico, vai ter menos carbono.

Amazônia Invisível – É verdade que os povos indígenas são os responsáveis pelas queimadas na Floresta Amazônica?

Ane Alencar – Dentro das terras indígenas, o percentual de desmatamento e de fogo é muito pequeno comparado ao que acontece no bioma como um todo. Nos focos de calor registrados em 2019 e 2020, apenas 7% a 8% do total ocorreram dentro dos territórios indígenas, é pouco, E no caso do desmatamento, 5% a 3% do desmatamento que foi registrado no bioma como um todo foi registrado dentro de terras indígenas. E essas terras indígenas são aquelas que tão sendo invadidas, ocupadas com a mineração, com garimpo ilegal, e tendo exploração madeireira ilegal também.

“Na Amazônia, o fogo é o maior perigo. Precisamos reduzir e controlar o fogo.” – Ane Alencar, geóloga (IPAM)

Cacalos Garrastazu/Eder Content

EXPORTAÇÕES DE MADEIRA BRUTA DO BRASIL CRESCERAM 6.356% NA ÚLTIMA DÉCADA

Mas como a madeira extraída ilegalmente da Amazônia chega ao mercado externo? O pesquisador Edson Vidal é especialista em manejo florestal e autor de um grande estudo sobre as formas utilizadas pelos madeireiros para “esquentar” a madeira e colocá-la no mercado de forma legal. Ouça como isso é feito:

AS MADEIRAS MAIS COBIÇADAS DA AMAZÔNIA

(valor do metro cúbico/US$)

IPÊ

244

Jatobá

109

Massaranduba

99

Muiracatiara

99

Angelim vermelho

96

Fonte: Tropical Timber Market Report (ITTO) – vol. 26 / Fev 2022

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